Confinamento: cuidados na formação dos lotes

Confinamento | 14 de maio de 2013

O desempenho dos bois confinados não depende somente da correta formulação e balanceamento das rações. Um manejo adequado contribui decisivamente para a expressão de todo o potencial de conversão dos alimentos em ganho de peso. Diversos fatores influenciam no desempenho, como a escolha dos bovinos a confinar, formação de lotes, tratos sanitários, manejo de adaptação, controle de barro nos currais, mistura de lotes, hierarquia e dominância dentro dos lotes, etc.

Manejo de lotes no confinamento

Dentro de cada lote de bovinos, por mais homogêneo que seja, desenvolve-se um processo hierárquico, com o surgimento de bovinos dominantes e bovinos dominados. Os dominantes vão antes e ficam mais tempo no cocho e, naturalmente, apresentam ganho de peso mais rápido. Os bovinos dominados são empurrados para trás no cocho e no bebedouro e são perseguidos pelos outros bovinos do lote, apresentando um desempenho inferior. Quanto mais heterogêneo for o lote, especialmente quanto à idade e tamanho dos bovinos, maiores serão os prejuízos da dominância. Essa questão determina algumas regras de manejo que devem ser seguidas pelo confinador:

a) Formação de lotes de bovinos – Formar cada lote de bovinos num mesmo dia. Evitar, no início do confinamento, formar os lotes apenas parcialmente e ficar, por vários dias, incluindo novos indivíduos nos lotes. Cada novo indivíduo no lote causa um novo arranjo hierárquico, o que passa por uma fase de disputas, aumento do estresse e redução do desempenho.

b) Mistura de lotes – Jamais, e repito: jamais apartar as “cabeceiras” de diferentes lotes e juntá-las em um novo lote, como por exemplo, um lote de bois prontos para abate. Isso somente pode ser feito se for à véspera de um embarque para abate. Mas o melhor é, mesmo nesse caso, evitar esse procedimento. O ideal é deixar este aparte para a hora do embarque. Misturar bois da “cabeceira” de diversos lotes é querer briga. São justamente os bois dominantes, desses diversos lotes, que seriam misturados, promovendo uma custosa disputa hierárquica, com perda de peso dos bovinos e redução da qualidade de carcaça por lesões e machucados. Se isto for feito mais de um dia antes da venda, os prejuízos já se tornarão evidentes para um bom observador. Com uma semana antes, os prejuízos serão gritantes.

c) Bois xibungos – Os bois xibungos devem ser retirados o quanto antes e enviados para o piquete de xibungos. Estes bois são foco de grande agitação no lote e somente sua retirada normaliza a situação. Temos observado, por vezes, um porcentual elevado de sodomia (necessidade de apartar mais do que 5 % de xibungos) em lotes de bois inteiros. Nas raças e linhagens precoces, o problema é maior com os novilhos superprecoces, logo no início do confinamento. Contudo a sodomia se reduz com o avanço da engorda. Nas linhagens mais tardias, a sodomia só se acentua a partir dos 16-18 meses. Com bovinos castrados o problema é minimizado, mas ainda ocorrem alguns casos.

d) Manejo dos lotes, após a venda de bois para abate – Por ocasião da venda para abate, quanto melhor tiver sido a formação dos lotes, maior a porcentagem de bois do lote que poderão ser vendidos de uma só vez, por exemplo: 60-70 %. Em lotes desuniformes, poucos bois atingem simultaneamente o ponto de abate, digamos 10-15%. Estes lotes precisam ser “desnatados”, ou seja: os bois gordos e já terminados devem ser pinçados de cada lote e enviados, o quanto antes, para o abate, para que não prejudiquem o desempenho geral. Sempre que vendemos a cabeceira de um lote, os bois remanescentes (que eram os dominados) deslancham no desempenho, especialmente se não forem misturados com bois de outros lotes. Contudo, por questões operacionais, como distribuição da ração, liberação de currais para o confinamento de novos lotes de bovinos, etc., muitas vezes se faz necessário juntar lotes que já foram “desnatados”. Isto pode ser feito somente com lotes da mesma categoria. A mistura desses bois, que são “fundo” de diferentes lotes, também vai gerar um novo equilíbrio hierárquico, porém com menos disputa e prejuízos do que no caso de misturar bois dominantes. Como estes bois ainda estão a um certo prazo da terminação, há tempo de as relações se harmonizarem no novo lote e os bois continuarem ganhando peso eficientemente. Sugerimos que o critério de mistura de lotes, após a venda de bois “cabeceira”, seja no máximo de fazer dois novos lotes a partir de cada três lotes já desnatados e dos quais, em média, tenham sido vendidos 35 % dos bois. A outra opção é de fazer um novo lote a partir de dois lotes, dos quais tenham sido vendidos pelo menos 50 % dos bois.

Os lotes de vacas descarte merecem duas medidas especiais de manejo, que geralmente proporcionam bons resultados:

a) Misturar 5 % de vacas madrinhas, já acostumadas com o trato no cocho. As madrinhas ajudam a reduzir os problemas de adaptação, “ensinando” as vacas de descarte a se alimentarem no cocho.

b) Colocar garrotes inteiros com as vacas, pois a concepção resulta em uma notável mudança no metabolismo das vacas, aumentando a eficiência de conversão alimentar. Além disso, a vaca não voltará a entrar em cio, o que iria prejudicar seu próprio desempenho e também das outras vacas do lote. Até 60 dias de prenhez, o feto e demais estruturas reprodutivas pouco afetam o rendimento de carcaça da vaca no abate.

 

Ricardo Burgi – Engenheiro Agrônomo,

Mestre em Nutrição Animal e Consultor em Bovinos de Corte

Fonte: Site BeefPoint

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