A crise de mercado reflete a eficiência da bovinocultura de corte brasileira

Confinamento | 17 de setembro de 2012

Por Celso de Almeida Gaudencio – Pecuarista

No segundo quadrimestre, bastou chover no outono e melhorar as pastagens, para abarrotar de bois o mercado e o setor entrar em crise. Isto mostra que o regime de chuvas é o fator preponderante para a produtividade bovina. Outros fatores, sem dúvida, também devem ter influenciado a baixa dos preços da proteína bovina brasileira. Mas, quando as condições ambientais favoráveis se afastam da média para melhor, isso é suficiente para que a tecnologia brasileira se manifeste em aumento na produção de carne.

O melhoramento genético, os processos de criação e o elenco de tipos de terminações, que vai de pasto exclusivo ao de cocho, apresentam resultados que saltam os olhos dos demais produtores mundiais. Muitas tecnologias ainda são pouco usadas, como o consórcio de leguminosa com pastagem, mas basta efetuar a recomposição química do solo sob pastagem, para que a produtividade atinja as potencialidade reais das gramíneas forrageiras sob regime de chuvas favoráveis.

Dessa forma, a única forma de balancear a oferta dos animais é através do uso racional da suplementação e complementação alimentar no coxo, por certo período, até que a oferta se ajuste à demanda. Essa assertiva não constitui preocupação, pois é tarefa da produção profissional, entendedora do significado da política de produção de carne bovina. Assim, a oferta profissionalmente ajustada evitará que a bovinocultura de corte sucumba diante da crise vivida na estação estival atípica.

Os criadores terão maior dificuldade em ajustar o rebanho, quando o baixo preço do bezerro afeta a renda, obrigando-os vender vacas matrizes para atender despesas momentâneas que se constituirão em desbalanceamento econômico no futuro. Já no ciclo completo, quando o produtor vende matrizes acima do descarte normal, este tem condições de suprir a falta futura de seu estoque, através de compra de animais jovens.

De tudo isso, se infere que a diminuição tecnológica na terminação de bois, por certo período, é a única ferramenta disponível para nivelar custos e preços e, ao mesmo tempo, atender a demanda somente quando esta for economicamente viável.

O meio ambiente é uma preocupação constante; noticia-se que 40 a 60 milhões de hectares de pastagem estão degradadas e que é necessária a migração de 70 a 85 milhões de hectares usados para pastagens para suprir a necessidade de lavouras para a produção agrícola de alimentos de origem vegetal.

Essa afirmação deve ser compreendida, pois as gramíneas anuais e perenes, usadas para forragens, são fortes agentes biológicos na melhoria dos atributos dos solos, tais como: agregação, armazenamento de água, reciclagem de nutrientes, controle da erosão e atividade fotossintética. A partir dessa contribuição, a soja apresenta melhoria da produtividade em sistemas associados às gramíneas. Quanto se fala em emissão de gases na pecuária, nesse balanço deve estar sendo considerada a atividade fotossintética das pastagens, que apresentam renovação vegetativa continua e produção orgânica exportada sob forma de carne e subprodutos.

Desse modo, quando se afirmam aspectos da degradação dos pastos, devem estar se referido aos solos com limitação química e de baixa produtividade. Nas condições brasileiras, na quase totalidade, os solos são ácidos e pobres em fósforo e outros nutrientes. Caso ocorra a construção química do solo sob pastagem, isso estancará a degradação do solo e aumentando a produtividade forrageira.

Noticiam-se ainda, que a intensificação produtiva é requisito básico para atender aspectos ambientais e, como consequência, à renúncia de criadores de bovinos, para dar espaço às lavouras. Certamente a assertiva leva em conta que extensas áreas de pastagem estão situadas em solos de baixa aptidão para lavoura; e se a agricultura avançar nessas áreas, sem dúvida alguma, necessitará de cuidados especiais para a preservação ambiental.

À insinuações de que o pecuarista não tem preocupação com a produtividade, deve-se responder ponderando que a bovinocultura de corte não apresenta retorno econômico suficiente para fertilizar adequadamente o solo. Restando então, como única opção, praticar baixa pressão de pastejo e regeneração natural renováveis dos atributos produtivos. Mas, quando por algum motivo, econômico ou não, o pecuarista for obrigado a aumentar a lotação animal dos pastos, acima da capacidade de suporte, surge a degradação do solo.

No entanto, a agricultura mais economicamente rentável avançará continuadamente sobre as áreas de pastagens. Contudo, para que a intensificação da pecuária prospere, o boi deve ter outro patamar de preço. Caso haja aumento de preço e retorno econômico aos produtores de carne, com a qualidade natural a pasto, o pecuarista adubará a terra – preservando o mais dileto patrimônio – o solo – e passam a competir com a pecuária de coxo.

No terceiro quadrimestre, a diminuição da oferta se fará pelo menor grau tecnológico na engorda dos bois e se esse pressuposto não for atendido – o período do ciclo de baixa se alongará, com prejuízos para todos. Desta vez, os preços baixos são devidos à eficiência da bovinocultura brasileira; mesmos diante de diagnósticos diametralmente contrários e a maldição dos ambientalistas.

Fonte: BeefPoint

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